Você sabe o que é essa estátua?

          Recentemente eu estive pela primeira vez na Praça dos Três Poderes. Fica em Brasília, onde em cada lado de uma praça gigante (e sem árvores) tem o Congresso, o Planalto (a casa da Presidente), e o Supremo Tribunal Federal.

Em frente do Supremo Tribunal Federal tem a estátua da foto, vocês sabem quem é?

Essa escultura feita por Alfredo Ceschiatti se chama “A Justiça.” Uma estátua desse estilo é muito comum em prédios, escritórios, parques, tudo que tem a ver ou quer homenagear a justiça e a lei. Na estátua em Brasília, assim como em muitas outras, tem uma mulher com os olhos vendados e segurando uma espada. Os olhos vendados me chamaram muito a atenção. Eu já tinha visto em muitas outras, mas acho que pelo fato de estar lá bem em frente, e pela situação no governo do Brasil, me fez pensar muito.

Sabe por que ela está com os olhos vendados? Bem, porque ela é a lei, a justiça, e nós no Brasil (assim como em muitos outros países) acreditamos que a justiça é cega, ou seja, ela está nem aí se você for rico, pobre, negro ou branco, mora em um lugar chique ou na favela, tem um trabalho muuuuito importante ou é desempregado. Ela vai aplicar a justiça da mesma maneira. Se você quebrou a lei, você quebrou a lei!

Vendo vários políticos sendo acusados e alguns sendo até condenados, me faz pensar que talvez essa ideia funcione mesmo. Não importa se você é o senador, o assessor do senador, o tradutor do senador, ou o cara que lava o terno do senador, você vai ter que sofrer as consequências de erros assim como todo mundo. Parece que a estátua diz: “eu sou a lei e emprego a justiça, não sei quem tu és, somente sei o que tu fizeste, e aqui está a tua punição.”

Isso parece muito bonito, e muitos não acreditam que isso acontece com pessoas que estão envolvidas com o governo, apesar que deveria.

Mas você já parou para pensar que talvez você também devesse apontar o dedo para você mesmo um pouco? É muito fácil acusar os outros e ignorar os teus erros, mesmo que pequenos. Uma vez ouvi uma deputada falar que “a corrupção está no DNA dos brasileiros.” O que será que ela quis dizer com isso? Para mim, quer dizer que, infelizmente, há uma parte da cultura dos brasileiros que acredita que pode se “safar,” escapar e situações mais chatas com o tal do “jeitinho brasileiro.” Para alguns é furar a fila, para outros estacionar na vaga de idosos, para outros é pagar para o policial para não dar aquela multa, outros sonegar impostos, pagar para a carteira de motorista, achar que só porque tem mais dinheiro, é filho de alguém, ou tem um trabalho importante deve ser tratado diferente, não querendo passar por aquele transtorno no aeroporto que “pessoas normais” têm que passar.

Eu estava lendo um livro que comparou uma situação entre um brasileiro e um americano. Em

uma situação de confronto, o brasileiro argumenta: “você sabe com quem está falando?” Algo ainda muito comum no Brasil, provavelmente você já ouviu e/ou falou. Mas diferentemente o americano argumenta na mesma situação: “who do you think you are?” (“quem você pensa que é?”). Deu para notar a diferença? Enquanto o brasileiro se acha que é alguém que não mereça aquela situação (ex: sendo parado por um policial), o americano sabe que ninguém é grande o suficiente para merecer tratamento diferenciado pela lei. Felizmente o autor disse que essa atitude no Brasil está mudando.

Galera, por favor, não estou justificando os erros de políticos, falando que temos que passar a mão neles e falar “óóóó, tudo bem, ninguém é perfeito.” Mas talvez antes de acreditar que a lei tem que ser cega para eles, acredite que ela também é cega para você.